O movimento
contribui para gerar ambiente de incerteza e afeta negativamente uma economia cuja
recuperação já era lenta. Agropecuária, construção civil e indústria automotiva
são atingidas, bem como as contas públicas. Apesar da indefinição sobre os
rumos da greve dos caminhoneiros, já é possível vislumbrar impactos de longo
prazo que os dias de paralisação poderão ter na economia do Brasil, ainda que
seja impossível apontar com precisão todos os desdobramentos de uma
interrupção, por vários dias, de diversas atividades econômicas.
Para o decano da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Luiz Roberto Cunha, o pior
efeito de longo prazo é a formação de um ambiente de incerteza. "A
atividade econômica depende muito de segurança, de olhar para o futuro e ter
expectativas positivas", afirma.
Dessa forma, pode haver um efeito inibidor sobre os investimentos, que leve a
um arrefecimento ainda mais forte da economia, cuja recuperação já era um pouco
mais lenta do que o esperado. Nesse cenário, mesmo com poucos dias de duração,
a paralisação pode ter impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
O
professor da Universidade Estadual de Campinas Márcio Pochmann compartilha
dessa visão. "Essa confusão no transporte de combustíveis, a escassez, a
elevação de preços: tudo isso têm impacto negativo no PIB, que já vinha se
desacelerando consideravelmente. São fatores que podem levá-lo a permanecer
nesse estágio de estagnação", analisa.
Efeitos sobre a inflação
Já
o impacto do aumento de preços sobre a inflação, no longo prazo, deverá ser
menor do que o esperado devido ao baixo dinamismo da economia, diz Pochmann.
Como a demanda está reduzida, há uma tendência de os produtores não repassarem
aos consumidores eventuais perdas.
"Isso
dependerá obviamente da demanda, especialmente em setores competitivos. Estamos
abaixo do centro da meta de inflação e isso, possivelmente, reflete o baixo
nível de demanda, o que não permite que haja repasse para os preços",
explica.
O
professor da PUC, por sua vez, lembra que um quadro inflacionário já se
desenhava mesmo antes da greve e estima que o indicador poderá subir ainda mais
com a alta de preços verificadas dos últimos dias. Cunha esperava um índice
anual acima de 4% antes da paralisação.
Segundo
ele, um fator determinante será a variação cambial, e se o dólar continuar a
subir até setembro, os efeitos poderão ser sentidos antes do período eleitoral.
"Foi criado um peso grande sobre uma inflação que já iria subir. Tem a
bandeira vermelha na energia a partir de junho, as perdas das safras de
commodities agrícolas na Argentina e nos EUA, o aumento da passagem de ônibus
no Rio, em discussão na Justiça. Já o câmbio tem impacto direto no minério de
ferro e o petróleo", explica.
Fonte: Terra