segunda-feira, 28 de maio de 2018

Impactos da greve dos caminhoneiros na economia

O movimento contribui para gerar ambiente de incerteza e afeta negativamente uma economia cuja recuperação já era lenta. Agropecuária, construção civil e indústria automotiva são atingidas, bem como as contas públicas. Apesar da indefinição sobre os rumos da greve dos caminhoneiros, já é possível vislumbrar impactos de longo prazo que os dias de paralisação poderão ter na economia do Brasil, ainda que seja impossível apontar com precisão todos os desdobramentos de uma interrupção, por vários dias, de diversas atividades econômicas.
Para o decano da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Luiz Roberto Cunha, o pior efeito de longo prazo é a formação de um ambiente de incerteza. "A atividade econômica depende muito de segurança, de olhar para o futuro e ter expectativas positivas", afirma.
Dessa forma, pode haver um efeito inibidor sobre os investimentos, que leve a um arrefecimento ainda mais forte da economia, cuja recuperação já era um pouco mais lenta do que o esperado. Nesse cenário, mesmo com poucos dias de duração, a paralisação pode ter impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
O professor da Universidade Estadual de Campinas Márcio Pochmann compartilha dessa visão. "Essa confusão no transporte de combustíveis, a escassez, a elevação de preços: tudo isso têm impacto negativo no PIB, que já vinha se desacelerando consideravelmente. São fatores que podem levá-lo a permanecer nesse estágio de estagnação", analisa.
Efeitos sobre a inflação
Já o impacto do aumento de preços sobre a inflação, no longo prazo, deverá ser menor do que o esperado devido ao baixo dinamismo da economia, diz Pochmann. Como a demanda está reduzida, há uma tendência de os produtores não repassarem aos consumidores eventuais perdas.
"Isso dependerá obviamente da demanda, especialmente em setores competitivos. Estamos abaixo do centro da meta de inflação e isso, possivelmente, reflete o baixo nível de demanda, o que não permite que haja repasse para os preços", explica.
O professor da PUC, por sua vez, lembra que um quadro inflacionário já se desenhava mesmo antes da greve e estima que o indicador poderá subir ainda mais com a alta de preços verificadas dos últimos dias. Cunha esperava um índice anual acima de 4% antes da paralisação.
Segundo ele, um fator determinante será a variação cambial, e se o dólar continuar a subir até setembro, os efeitos poderão ser sentidos antes do período eleitoral. "Foi criado um peso grande sobre uma inflação que já iria subir. Tem a bandeira vermelha na energia a partir de junho, as perdas das safras de commodities agrícolas na Argentina e nos EUA, o aumento da passagem de ônibus no Rio, em discussão na Justiça. Já o câmbio tem impacto direto no minério de ferro e o petróleo", explica.
Fonte: Terra