Outubro,
mês dedicado ao alerta e prevenção ao câncer de mama, reflito sobre todos os
"outubros rosas".
No mercado, cena curiosa. Um fabricante de farinhas de trigo fez
uma embalagem rosa comemorativa ao mês e alerta à prevenção. A farinha da
embalagem em questão estava com o preço quase um real abaixo das outras,
inclusive a tradicional de sua própria marca, e fiz meu "estoque". Ao
distanciar-me, observei outros consumidores. Um rapaz leu os preços,
pegou-soltou-pegou olhou para os lados… e soltou de vez a embalagem. Semelhante
comportamento teve um senhor e duas moças, mesmo com bom preço e ótima
validade. Há os tabus, e talvez o fabricante não contasse com isso.
Num mundo em que as questões de gênero pouco ou nada avançam,
onde mulheres violentadas física e emocionalmente passam de vítimas a culpadas;
em que se acolhe o violador; detalhes do dia a dia não me surpreendem.
A transformação do cruel em banalidade aceita. Da expressão
"briga de marido e mulher ninguém mete a colher" em rito de boa
vizinhança é notório, enquanto o feminicídio e a violência contra a mulher
aumentam suas taxas.
O tabu sobre a embalagem rosa para uma farinha é sintoma social
de outro câncer a ser combatido, enraizado e, infelizmente, simpático para
muitos.
Por outro lado, a nova tecnologia viabiliza os registros para
denúncias em vídeo, áudio, e a printer para casos de assédio virtual.
Cuidar da saúde, fazer os exames anuais, usar preservativo,
trocar experiências com as amigas, denunciar, ajudar outras mulheres, fugir de
relacionamentos tóxicos são direcionamentos possíveis. Rosas nos jardins de
todos outubros e meses.
Ana Cecília Romeu - Publicitária e escritora